As identidades e alteridades dos itálicos no Rio de Janeiro: a construção de uma identidade comum italiana
Resumo
Parece que o estrangeiro - pelo menos a maior parte deles - carrega consigo uma dimensão fatalista da vida. As moiras do destino parecem estar sempre à sua busca, para puni-los, para dar-lhes a devida medida do seu destino. A biografia do estrangeiro se constrói, portanto, sempre a partir de um acidente, uma ruptura. A cegueira e a compulsão edipianas parecem operar no estrangeiro. A transitoriedade é seu limite, o que significa dizer que, em certa medida, o que caracteriza o estrangeiro é a ausência de limites. O trânsito parece nunca completar-se: mesmo ao se estabelecer em terra estrangeira e ali prosperar, o ponto de origem é sempre seu parâmetro: um ponto perdido, abandonado, a cada dia esquecido e a cada dia reconquistado em memórias que se transformam, se adulteram, memórias que traem e logram criar fantasias as mais diversas. De que se lembra o estrangeiro de sua terra natal, de sua vida passada? O quanto dessas lembranças não foi adulterado pelas representações que ele passou a assumir nos lugares para onde emigrou? Conforme o tempo cronológico passa, como se passa dentro do estrangeiro o tempo que o liga ao seu espaço de origem?
No caso dos estrangeiros, sentir-se, ainda que parcialmente, deslocado em toda parte pode não ser uma sensação agradável. Mas esse estar deslocado é um espaço aberto a identificações. No caso dos nossos italianos, estar do lado de cá do Atlântico foi o que lhes permitiu agregar-se em torno de uma comunidade imaginada, em torno de uma identidade comum italiana, que eles esforçaram-se por construir.