DO DESENCANTO AO REENCANTAMENTO: A CRIAÇÃO DE ESPAÇOS DE RESISTÊNCIA
Resumo
A terra, aqui tomada como correspondente simbólico-topográfica do termo espaço, ou, precisamente, a imagem telúrica, configura matéria relevante à literatura, tanto no âmbito da produção de escritos ficcionais quanto da pesquisa, pelo caráter diverso de possibilidades político-estético-literárias que apresenta. De maneira concisa, é possível afirmar que o telúrico configura uma imagem estabelecida no literário, mas que por outro lado desponta um caráter passível de novidade, de releitura. Na obra de Juraci Dórea e de Miguel Torga a imagética terral é um tópico frequente. Nesse contexto, apresento textos doreanos e torguianos em que, por intermédio de imagens telúricas, ocorre a conformação de uma paisagem poético-política, que pode operar por meio de encantamentos, especificamente de um reencantamento do mundo (MAFFESOLI, 2002), dentre outras noções. Assim decorro porque elaboro uma leitura da obra poética de Dórea e de Torga no tocante à terra a partir de um viés relacional, que averigua diálogos entre os dois, sem a pretensão de estabelecer uma relação hierarquizadora – já que estamos tratando de um canônico português (Torga) e de um baiano (Dórea) reconhecido como artista visual, mas ainda pouco conhecido como poeta, embora apresente significativa produção.