NARRATIVAS DO TRAUMA: ESCREVENDO A HISTÓRIA A CONTRAPELO
Resumo
As relações entre memória e história presentes nas narrativas do trauma oferecem a oportunidade de criticar o historicismo, definido como aquele que representa o passado “tal como ele de fato ocorreu”. Diferentemente da perspectiva histórica, os ficcionistas contemporâneos, ao debruçarem-se nos relatos dos vencidos, colocam em xeque a verdade histórica como único caminho e ponto de chegada. Esse pressuposto encontra embasamento na concepção benjaminiana de que não há natureza histórica, mas possibilidades individuais que fazem a história. Este artigo tem por objetivo analisar como a experiência do trauma é traduzida na novela de potencial destinação juvenil Stefano, de Maria Teresa Andruetto, e na narrativa intitulada Dr. Henry Selwyn, do romance Os emigrantes, de W. G. Sebald, a fim de verificar os pontos de convergências e divergências entre as obras. Em Stefano, Maria Teresa Andruetto, ao longo de 75 páginas, narra os percalços enfrentados por um jovem imigrante italiano que foge da pobreza do pós-guerra na Itália para a Argentina. Na primeira narrativa de Os emigrantes, deparamo-nos com a história do expatriado Henry Selwyn, cuja vida é despedaçada por conta do Holocausto e da Segunda Guerra Mundial.