REGIMES PERCEPTUAIS E IDEOLOGIAS EM FRICÇÃO: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO SOBRE O ENSINO DE LIBRAS PARA CRIANÇAS OUVINTES
Resumo
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa etnográfica realizada em 2018, em uma escola pública do Sul do Brasil, que adota práticas pedagógicas de caráter experimental. O objetivo é discutir os regimes perceptuais e as ideologias em fricção no ensino de Libras para uma turma de crianças ouvintes, com idades entre 9 e 10 anos, durante aulas ministradas por uma professora surda. A metodologia fundamentou-se na observação participante, com foco nas interações entre os alunos e a docente. A análise apoia-se nos conceitos de situação social e regimes perceptuais (GOFFMAN, 2002), articulados à etnografia educacional (BAQUEDANO-LÓPEZ, 2016) e aos estudos culturais de Hall (1989) e Mcilvenny (1995). Os resultados evidenciam tensões nas relações interpessoais, atravessadas por assimetrias perceptivas e comunicativas que impactam o reconhecimento da autoridade da professora surda. Observou-se que, enquanto alguns alunos buscavam adequar suas práticas comunicativas ao regime perceptual visual, outros reproduziam condutas excludentes, desconsiderando a acessibilidade comunicacional. As conclusões apontam que as intersecções entre surdez, gênero e linguagem produzem desafios à inclusão, revelando como percepções sensoriais e ideologias linguísticas moldam as dinâmicas de poder no espaço escolar e os processos de socialização linguística em contextos educativos inclusivos.
Palavras-chave
Libras; regimes perceptuais; ideologias linguísticas
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