Do gosto pelo pecado à pena que ainda cai das mãos: o roubo das peras nas Confissões de Santo Agostinho e o roubo da maçã nas Confissões de Jean-Jacques Rousseau

Maura Voltarelli, Glauco Cortez

Resumo


Este artigo compara o episódio do roubo das peras nas Confissões de Santo Agostinho e o episódio do roubo da maçã nas Confissões de Rousseau, mostrando, em particular, em que estratégia argumentativa e discursiva ambos episódios se inscrevem e qual é a relação entre o “eu” que narra e o “eu” narrado. No caso das Confissões de Santo Agostinho, a interpelação de Deus como aquele que confere o estatuto de verdade ao seu discurso, bem como a distância entre o eu que enuncia (no presente) e o eu da enunciação (no passado) são facilmente notadas. Já nas Confissões de Rousseau, não há mais a possibilidade de contar com Deus como o principal interlocutor. A figura divina é substituída pelo leitor. Da mesma forma, a distância temporal e de identidade entre o eu do passado e o eu do presente não é mais tão clara. Em um jogo de transparências e obstáculos, Rousseau realiza um “pacto com a linguagem”, seja para convencer o leitor de que ele diz a verdade, seja para reviver no presente o seu passado, borrando as distâncias até então tão claras e explorando o gênero da autobiografia.



Palavras-chave


literatura, autobiografia, análise

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