A encenação do si em Memórias de Adriano
Resumo
RESUMO: A ficcionalização do passado histórico tem intrigado muitas gerações de críticos desde que Lukács publicou seu estudo paradigmático sobre o romance histórico. Como é bem sabido, o processo de transformação do material histórico num microcosmo estético não se restringe somente a reescrever a História, empregando elementos típicos do discurso ficcional. Antes, a organização do material encontrado requer uma seleção que esteja em consonância com a estética a ser criada pelo autor para assegurar assim a autonomia da obra de arte.
Yourcenar logrou fazer isso, distanciando-se de uma relação minuciosa de fatos históricos para concentrar-se na A encenação do si em Memórias de Adriano. Assim, foca seus relatos na turbulência das emoções, na onipresença do corpo e no medo da morte, atribuindo, por fim, ao amor o papel de delineador da História. Por conseguinte, a organização do material histórico já não segue a lógica da linearidade temporal, mas sim da experiência existencial única e paradigmática incorporada pelo imperador Adriano.