Chamadas: v.15 Número Especial de 2024: Dossiê "Novas órbitas para (in)formação de professores de línguas"

Dossiê:
Novas órbitas para (in)formação de professores de línguas

A formação docente profissional é uma conquista tardia na realidade brasileira. Levando-se em consideração sua história, deparamo-nos com a evidência que a permanente dicotomia entre teoria e prática tem permeado essa formação em nosso país. É de amplo conhecimento que já houve momentos em que a formação de professores tinha como base o modelo dos conteúdos culturais-cognitivos e que em outros, o foco era no modelo pedagógico-didático. Hoje, entretanto, observamos que outras questões emergem rapidamente, como as consequências de novos desafios de ordem mundial, tanto sócio-políticos quanto de saúde física e mental. Criou-se, assim, na Linguística Aplicada (LA) um nicho potencial para a produção de trabalhos envolvendo pesquisas sobre a formação de professores de línguas. Dessa forma, encontramos uma forte tendência nos recentes estudos de LA de relevantes contribuições como as de Fernandes e Gattolin (2021), Santos e Tonelli (2021), Gatti et al. (2019), Vieira-Abrahão (2019), Monte Mór, 2018; Matheus e Tonelli (2017) para a área, para citar alguns exemplos. Em alguns estudos, como o de Gatti et al. (2019), é evidenciado que dois importantes temas, a formação de professores e a oferta de escolarização básica, são fatos relacionados. Partindo dessa pressuposição, lançamos nosso olhar sobre o mais recente documento que rege esses temas, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Homologada pelo ministro da Educação, Mendonça Filho em 20 de dezembro de 2017, a BNCC tem três dimensões, (i) conhecimento profissional; (ii) prática profissional; e (iii) engajamento profissional (Brasil, 2020, p. S/N), que são fundamentais e, de modo interdependente, se integram e se complementam na ação docente no âmbito da Educação Básica. Não obstante, tal documento negligencia a formação de professores. Szundy (2017), por exemplo, foi surpreendida pelo fato dessa expressão aparecer apenas sete vezes ao longo de suas 676 páginas. Diante desse cenário, indagamo-nos acerca de quais temas correlacionados à formação de professores carecem discussões aprofundadas no presente cenário brasileiro e, por conseguinte, propomos um dossiê que examine aspectos que contribuam para o entendimento das seguintes questões:
1- Os cursos de licenciatura estão preparados para as demandas de um novo tempo? De que forma?
2- Quais letramentos fazem-se necessários na formação de professores de línguas?
3- Como formar professores para libertar e combater discursos negativistas, antigêneros e racistas?
4- O que se espera dos cursos de formação de professores de língua nesta nova era pós-pandêmica?
5- Como a formação de professores de línguas pode contribuir para a mitigação da hierarquização e a desigualdade de raça, classe, gênero, culturas e línguas?
6- Como formar professores de línguas para avaliar e se autoavaliar?
7- Qual olhar os materiais didáticos devem receber na formação de professores?
8- Como estabelecer transdisciplinaridade e autonomia nos cursos de licenciatura?
9- Quais caminhos os cursos de licenciatura devem apontar a fim de ressignificar retóricas antidemocráticas?
10- Como promover o exercício de autonomia e ética nas práticas com PIBIC e PIBID na formação de professores?
11- De que forma a perspectiva da colonialidade pode ser combatida na formação de professores de línguas?
Esperamos propostas que possam contemplar essas entre outras questões a fim de (re)discutir o papel da Licenciatura e dos formadores de professores nas universidades no Brasil.

Dossier:

New orbits for language teachers education

Professional teacher education is a late achievement in Brazilian reality. Taking its history into account, we come across evidence that the permanent dichotomy between theory and practice has permeated this education in our country. It is widely known that there were times when teacher training was based on the cultural-cognitive content model and that in others, the focus was on the pedagogical-didactic model. Today, however, we observe that other issues are rapidly emerging, such as the consequences of new world-wide challenges, both socio-political and in terms of physical and mental health. Thus, a potential niche was created in Applied Linguistics (AL) for the production of studies involving research on the education of language teachers. Thus, we find a strong trend in recent AL studies of relevant contributions such as those by Fernandes and Gattolin (2021), Santos and Tonelli (2021), Gatti et al. (2019), Vieira-Abrahão (2019), Monte Mór, 2018; Matheus and Tonelli (2017) for the area, to name a few examples. In some studies, such as that by Gatti et al. (2019), it is evident that two important themes, teacher education and the provision of basic educational schooling, are related facts. Based on this assumption, we look at the most recent document that governs these topics, the National Common Curricular Base (BNCC). Approved by the Minister of Education, Mendonça Filho on December 20, 2017, the BNCC has three dimensions, (i) professional knowledge; (ii) professional practice; and (iii) professional engagement (Brasil, 2020), which are fundamental and, interdependently, integrate and complement each other in teaching activities in the scope of Basic Education. However, this document neglects teacher education. Szundy (2017), for example, was surprised by the fact that this expression appears only seven times throughout its 676 pages. In view of this scenario, we ask ourselves about which topics related to teacher education require in-depth discussions in the current Brazilian scenario and, therefore, we propose a special issue that examines aspects that contribute to the understanding of the following questions:

1- Are undergraduate teacher education courses meeting the demands of a new era? In which way?
2- Which literacies are necessary in the education of language teachers?
3- How to prepare teachers to provide freedom thoughts and combat negative, anti-gender and racist discourses?
4- What is expected from language teacher education courses in this new post-pandemic era?
5- How can language teachers education contribute to mitigating the hierarchy and inequality of race, class, gender, cultures and languages?
6- How can language teachers be prepared to evaluate and self-evaluate?
7- How should instructional materials be approached in language teacher education?
8- How to establish transdisciplinarity and autonomy in undergraduate teaching courses/degrees?
9- What paths should undergraduate teaching courses/degrees take in order to reframe anti-democratic rhetoric?
10- How to promote the exercise of autonomy and ethics in practices with PIBIC and PIBID in teacher education?
11- How can the perspective of coloniality be combated in language teachers education?

We expect proposals that can address these, among other issues, in order to (re)discuss the role of the undergraduate teaching courses/degrees and professors at universities in Brazil.