FOCALIZAÇÃO E GÊNERO EM ROMANCES DE MIA COUTO
Resumo
A subalternidade feminina dentro do quadro de valores patriarcais reproduz a lógica da dependência colonial, e em Moçambique, em particular, a opressão à mulher sobreviveu à transição de sistemas políticos e regimes, reproduzindo-se no período pós-colonial. Em sua ficção, Mia Couto recria tessituras sociais que evidenciam o aspecto perene desses papéis para ressaltar a riqueza do universo feminino, ao invés de desvalorizá-lo. Quando concede voz às personagens femininas, Mia Couto permite que as histórias sejam narradas sob o ponto de vista de quem tem sido silenciado pela História. Este artigo visa à análise de dois romances de Mia Couto, A confissão da leoa e Mulheres de Cinzas, de modo a demonstrar que, em ambos os romances, a narrativa é construída a partir de uma dupla focalização, ora centrada em personagens femininas ora em personagens masculinas, e que essa alternância permite uma revisão dos eventos narrados por óticas diferenciadas e complementares.
Palavras-chave
Focalização. Gênero. A confissão da leoa. Mulheres de Cinzas.